23 maio, 2004

Não quero acreditar

Transcrevo a notícia publicada no Caderno D+ do Estado de Minas em 18.maio, terça-feira passada:
"Pesquisa maluca:
Poetas morrem mais cedo do que outros escritores, como novelistas e roteiristas, segundo um estudo realizado nos Estados Unidos. Segundo James Kaufman, da Universidade do Estado da Califórnia, isso deve-se ao fato de que poetas são torturados ou autodestrutivos, ou adquirem uma má-reputação ainda jovens. Kaufman estudou 1.987 escritores mortos de todo o mundo que viveram nos últimos séculos e descobriu que os poetas “morrem significativamente mais jovens”. Na média, a expectativa de vida de um poeta é de 62 anos, contra a dos roteiristas, que é de 63 anos, a de novelistas 66, e a dos escritores de obras não-ficcionais, 68 anos."

Não quero acreditar nisso: será que o pesquisador James Kaufman considerou outras variáveis: Estilo de vida, abuso de substância, fome... Afinal, ser poeta nunca foi lá um meio de vida valorizado pela sociedade. A poesia transita por caminhos alternativos ou, mesmo, marginais. Um poeta consegue efetuar rupturas no discurso dominante e estereotipado da linguagem usual e, muitas vezes, é atravessado por conflitos entre o princípio da realidade e o que irrompe de seu interior. Não são poucos os poetas que afirmam escrever por necessidade e não por prazer.
A propósito, taí um poema do Fernando Pessoa:
Autopsicobiografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


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