TDAH é a sigla para o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Segundo a Associação Médica Americana, trata-se de um transtorno dos mais bem estudados e documentados, como poucos em Medicina.
Catarcterísticas: Desde a década de 50, nos EUA, já encontramos a referência a crianças que não conseguem manter a atenção e a concentração por muito tempo, são muito irritadiças, não suportam a frustração, são extremamente inquietas, desobedientes, impulsivas, etc. O fracasso escolar se explica pela "voação", quando ficam "no mundo da lua", nem escutam o que a professora diz. Esquecem-se de anotar os deveres, esquecem objetos e compromissos, não toleram um esforço mental mais prolongado. Tendem a ser birrentas, desafiadoras, destemidas (sobem em qualquer lugar!), correm de um lado para outro. Geralmente são crianças inteligentes, espertas e, por isso mesmo, aos poucos vão percebendo os próprios fracassos e as constantes repreensões e castigos dos adultos, concluindo que são rejeitadas e piores que os colegas. Daí, podem se tornar mais deprimidas, ansiosas e com baixa de auto-estima. Ou seja, não é fácil ser um "portador" de TDAH.
As classificações deste transtorno se baseiam nas três principais
característas:
a) disatenção: distractibilidade
b) inquietação: hiperatividade
c) comportamentos agressivos e desastrados: impulsividade.
A evolução dos estudos foi mudando, aos poucos, a compreensão deste quadro e a consequente substituição de seu nome:
- Lesão cerebral mínima, quando se pensava que o distúrbio era devido a uma pequena e invisível lesão no Sistema Nervoso Central.
- Disfunção Cerebral Mínima: quando o foco passou a ser a incapacidade funcional do cérebro.
- Transtorno hipercinético e Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade, nas classificações atuais, de origem norte-americana: DSM-IV e CID-10.
Da mesma forma, as causas do problema vêm sendo deslocadas de fatores educacionais (falta de limites) para fatores genéticos (há enorme concordância de aparecimento do transtorno em gêmeos e parentes). Atualmente se sabe que há alterações na transmissão dos impulsos nervosos, principalmente na córtex cerebral (responsável pela atenção e interesse, no sistema límbico e hipotalâmico e nos núcleos da base, onde funcionam os "filtros" dos impulsos originários das percepções.
Uma explicação simplificada poderia ser dada com o seguinte exemplo: ao escutarmos uma campanhia de telefone, podemos ignorá-la se não estivermos esperando chamada. ("Que alguém atenda, não eu.") Logo voltamos a nos concentrar no que estávamos fazendo. O hiperativo-desatento logo correria para atender, chamaria o verdadeiro destinatário e... se esqueceria de voltar a fazer o que fazia.
As pesquisas mais acuradas apontam para um índice de prevalência relativamente alto de portadores de TDA/H: de 3% a 7% da população escolar. Todas as escolas possuem crianças com este transtorno e, muitas vezes, tratam-nas como se fossem puramente indisciplinadas, de "má índole", sem educação, etc. Acabam expulsando e estigmatizando tais alunos que passam a "peregrinar" de escola para outra, acarretando prejuízo acadêmico e onerando as famílias.
A evolução dos casos não tratados pode ser muito ruim, com 40% se tornando adolescentes mal-adaptados, recorrendo a drogas (álcool e outras) e com comportamentos anti-sociais. Muitos chegam até à idade adulta com transtornos graves, desajustes acadêmicos, laborais, relacionais, além de doenças secundárias, como depressão, ansiedade e abuso de drogas.
Os tratamentos propostos incluem:
1) uso de medicamentos
2) orientação da família, do portador e da escola
3) às vezes psicoterapia e ou treinamento
Há estudos mostrando o risco de se fazer este diagnóstico com "muita facilidade", tornando um problema médico aquilo que poderia ser característica pessoal ou consquência de estresse ou até mesmo incapacidade das escolas.
Além disso, o mundo contemporâneo nos oferece uma multiplicidade de estímulos, fazendo exigências e provocando uma inquietação constante. Sobre isso há uma pesquisa recente, feita pelo psiquiatra Rossano Lima, mestre em Saúde Coletiva do Instituto de Medicia Social da Uerj, em que "relaciona os sintomas de uma doença cujo diagnóstico vem crescendo a taxas espantosas com as características do sujeito pós-moderno, aquele que, segundo o sociólogo Zigmunt Bauman, está "pronto a adaptar-se a um mundo que não oferece mais garantias e lastros estáveis e sólidos".
Numa entrevista excelente feita por Carla Rodrigues no site NoMín imo, Rossano afirma: Podemos dizer que a rápida propagação do TDA/H depende de um amplo arranjo cultural a lhe respaldar e ressoar. Edward Hallowell, um dos principais divulgadores do transtorno nos EUA, chegou a propor que a sociedade atual é indutora de "pseudo-TDA/H". O problema, não resolvido por ele nem por ninguém, é o da ausência de critérios confiáveis para diferenciar o quadro tido como verdadeiro (supostamente biológico) do falso (que seria culturalmente induzido). De qualquer maneira, podemos afirmar que uma sociedade que celebra como valores supremos a agressividade permanente no trabalho, a necessidade de mobilidade incessante e o imperativo do desvio contínuo do foco da atenção torna a existência do transtorno mais convincente e estimula a adesão das pessoas a suas concepções e a seu vocabulário. Não é por acaso que o surgimento e a explosão desse diagnóstico se dá agora, e não há trinta ou sessenta anos. .
Há inúmeros sites que falam sobre o assunto. Em português, recomendo este aqui.
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