05 janeiro, 2005

Culpa sua!

O Allan, que nos brinda com textos perfeitos no seu Carta da Itália, fez um post interessantíssimo sobre a "necessidade de se achar um culpado".
A "Culpa" é o flagelo do ser humano, pois se acompanha, sempre, de auto-depreciação e auto-agressão. O culpado se sente desprezível e, mesmo pedindo perdão, reclama um castigo: "eu mereço, eu mereço". A punição pode vir do outro ou de si mesmo, o que alimenta a auto-agressão: às vezes explícita, quase sempre sub-reptícia, inconsciente (esquecimentos, adoecimentos, provocações que desencadeiam problemas, etc.).
Freud chega a colocar a culpa como um dos alicerces das neuroses, construído implacavelmente pelo que chamou de SuperEgo ("aquilo que está acima do eu"). Os sintomas neuróticos (ansiedade, angústia, obsessões) seriam manifestações dos desejos recalcados, escondidos, proibidos, intoleráveis ao Ideal que construímos para nós mesmos e, por isso mesmo, inconscientes.
Para a Psiquiatria, quem não experimenta culpa, não se arrepende dos mal-feitos, é um "psicopata", um "sociopata", um portador de "Transtorno de Personalidade Anti-Social".
Ou seja, apesar de tudo, ainda é mais saudável ter capacidade de sentir culpa e experimentá-la, razoavelmente...
Para minimizar o próprio sofrimento, entretanto, tendemos a "jogar a culpa no outro", "achar um culpado". Se dermos crédito ao Gênesis, tudo começou lá no Jardim do Éden, quando o Criador pegou Adão no flagra: "- Não foi culpa minha, Senhor, foi a Eva que me deu a maçã". Eva: "- Eu não! Eu não! foi a serpente..."
Lembram-se da fábula? Ao invés de assumir sua própria natureza, e devorar logo o cordeirinho, o lobo o acusa de sujar a água. "- Como? bebo abaixo de você, seu lobo!" Mas a fera ainda insiste: "- Se não foi você, foi seu pai". Hhac! Papou o inocente, mas liberou-se da culpa.
O mau aluno não resiste. Diante do fracasso, culpa o mestre: "- O fdp daquele professor me marcou, não sabe dar aulas e, ainda por cima, fez questões sobre o que não ensinou!"
E o cidadão, esquecendo-se de que votou (mal): "- A culpa é do governo!"
Conclusão: aqui estamos, neste vale de lágrimas, cavando o sustento com o suor de nossos corpos e parindo na dor... Bom, mas a culpa, mesmo, é do capeta. Ô diabo, sô!
[Pois é, meu comentário acabou virando um post... culpa sua, Allan!!!]

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