Com a posse dos novos prefeitos e vereadores, o calendário político já está em 2006. Alianças -quase sempre exdrúxulas- se costuram e todos prometem o que não pretendem cumprir. Todos, de olho na disputa pela presidência da República, tão longínqua quanto acirrada. Nas capitais, o desempenho dos alcaides será analisado, sempre, sob esse prisma.
Aqui em Belo Horizonte, um espanto: Fernando Pimentel (PT), que assumira o mandato em substituição ao Célio de Castro - doente - foi reeleito com 70% dos votos. Promete mundos e fundos, visando alcançar projeção nacional. Quer voar alto, o homem.
Nos municípios do interior, os grotões (expressão criada pelo falecido Tancredo Neves - aquele que foi presidente, sem nunca ter sido!), questiúnculas locais passam a ter colorido nacional. A briga pelo poder e pelas coligações beira o realismo fantástico. Os profissionais da política tratam de garantir alianças, propondo candidaturas, distribuindo cargos e favores. Articulam-se na surdina e os opositores de ontem podem ser os aliados de hoje, visando resultados amanhã. Tudo é muito fluido, o terreno é pantanoso, as brumas pouco deixam entrever da real intenção de velhas raposas e dos oportunistas recém eleitos.
Uma das mais perfeitas descrições dessa "política" no interiorzão do Brasil pode ser saboreada na prosa de Mário Palmério, ele próprio político do Triângulo Mineiro, conhecedor das mais incríveis malandragens e sujeiras que se possam imaginar.
Vila dos Confins, que "nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance", segundo definição do autor, é saboroso, curioso, minucioso. É um relato interessantíssimo da politicagem que "astravanca o progresso do país". Vale a leitura, mesmo sendo considerado obra menor, quando comparado ao monumental e clássico Capadão do Bugre.
Em "Vila dos Confins" a manipulação dos eleitores é a tônica e o poder dos coronéis é mantido às custas de compra de votos, ameaças, promessas, fraudes. Necessitando de um aliado na Câmara Municipal, o secretário de campanha convence o caboclo João Francisco de Oliveira a se candidatar à vereança. João era analfabeto, como a maioria da população. Pois o secretário Pé-de-Meia trata de ajudá-lo a desenhar a assinatura, para o requerimento de praxe:
Aqui em Belo Horizonte, um espanto: Fernando Pimentel (PT), que assumira o mandato em substituição ao Célio de Castro - doente - foi reeleito com 70% dos votos. Promete mundos e fundos, visando alcançar projeção nacional. Quer voar alto, o homem.
Nos municípios do interior, os grotões (expressão criada pelo falecido Tancredo Neves - aquele que foi presidente, sem nunca ter sido!), questiúnculas locais passam a ter colorido nacional. A briga pelo poder e pelas coligações beira o realismo fantástico. Os profissionais da política tratam de garantir alianças, propondo candidaturas, distribuindo cargos e favores. Articulam-se na surdina e os opositores de ontem podem ser os aliados de hoje, visando resultados amanhã. Tudo é muito fluido, o terreno é pantanoso, as brumas pouco deixam entrever da real intenção de velhas raposas e dos oportunistas recém eleitos.
Uma das mais perfeitas descrições dessa "política" no interiorzão do Brasil pode ser saboreada na prosa de Mário Palmério, ele próprio político do Triângulo Mineiro, conhecedor das mais incríveis malandragens e sujeiras que se possam imaginar.
Vila dos Confins, que "nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance", segundo definição do autor, é saboroso, curioso, minucioso. É um relato interessantíssimo da politicagem que "astravanca o progresso do país". Vale a leitura, mesmo sendo considerado obra menor, quando comparado ao monumental e clássico Capadão do Bugre.
Em "Vila dos Confins" a manipulação dos eleitores é a tônica e o poder dos coronéis é mantido às custas de compra de votos, ameaças, promessas, fraudes. Necessitando de um aliado na Câmara Municipal, o secretário de campanha convence o caboclo João Francisco de Oliveira a se candidatar à vereança. João era analfabeto, como a maioria da população. Pois o secretário Pé-de-Meia trata de ajudá-lo a desenhar a assinatura, para o requerimento de praxe:
"- Me dá licença, seu João. E pega no mãozão cascudo, pesado tal um caminhão de tora. Vai choferando a bicha, para cima e para baixo, caminhando com ela sobre o papel. O rasto fica: primeiro, a foice espigada do jota, depois a laçada bamba do ó; em seguida, mais duas voltas grandes, repassandas e atreladas uma á outra. Mas ainda falta o remate: o urubuzinho do til que Pé-de-Meia fez João Francisco desenhar, bem saliente, por cima do primeiro trecho da tremida assinatura. - Já varamos um bom eito. Vamos descansar um pouco: falta ainda o Francisco, falta o de Oliveira..."
Não é fácil o voto consciente. Pagamos o preço pela escuridão da ignorância. Se dispensamos alguém que nos cunduza o mãozão na hora do voto, cuidemos para que os marketeiros contratados a peso de ouro não nos façam a cabeça, conduzindo nossas mentes e corações com falsos argumentos, propagandas enganosas, promessas inviáveis. Portanto, já é hora de dizer: Feliz 2006!
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