16 março, 2005

ACALME-SE!

Muitas pessoas procuram o psiquiatra ou o psicoterapeuta com queixas de ansiedade acompanhada de sensações corporais desconfortáveis (desde falta-de-ar a "iminência de morte"). Em alguns casos, o diagnóstico se impõe: trata-se da famosa "síndrome do pânico" - de tão falada, virou moda e, para alguns, caiu no descrédito. Seus portadores, às vezes, são vistos com desdém. Para os reais sofredores, no entanto, há tratamentos específicos, nos quais a medicação se inclui.
Minha prática demonstrou que alguns esclarecimentos ajudam bastante. Ocasionalmente até dispensam o uso de drogas.
Eis a transcrição de um texto que costumo dar aos que considero capazes de bem aproveitar as instruções nele contidas:

1 - A "ansiedade paroxística aguda", também chamada “síndrome do Pânico”, é uma entidade clínica que consiste em crises agudas de ansiedade. Tem inúmeros sintomas, sendo esses os principais:
a) taquicardia
b) sudorese
c) falta de ar
d) formigamento das extremidades, câimbras
e) sensação grande de desconforto
f) sensação de morte iminente
g) dores abdominais
h) vista escura
i) medos
j) dificuldade em permanecer no local
k) desorientação (raro)
l) perda da conexão com a realidade (raro)

2 - o início dos sintomas geralmente é abrupto: de repente a pessoa é tomada pela ansiedade, sem um fator causal determinado. As crises ocorrem com freqüência, costumando chegar a várias vezes por semana! Por isso,o quadro pode ser incapacitante para o trabalho ou para a vida social.
3 - há crises que se desencadeiam em lugares públicos, com muita gente (restaurante, supermercado, praça pública): é o "transtorno de pânico com agorafobia"; as pessoas passam a evitar estes lugares, por causa do medo de ter medo!
4 - Para se enfrentar a "síndrome do pânico" é necessário que se tenha conhecimento dos processos fisiológicos da ansiedade e se tomem medidas práticas, como a seguir:
5 - Como se desencadeiam as sensações fisiológicas da ansiedade?
A partir do momento em que a crise é deflagrada, há uma ativação do sistema nervoso autônomo (simpático), ou seja, a pessoa começa a respirar mais rápido e menos profundamente (hiper-ventilação e hiper-respiração). Como conseqüência, diminui o nível de oxigênio no organismo, especialmente no cérebro, provocando uma sensação aguda de falta-de-ar (dispnéia). Os vasos sanguíneos periféricos se contraem, pois se desencadeia a reação de "luta e fuga", própria dos seres vivos, diante de qualquer ameaça (descarga de adrenalina). As mãos esfriam. O indivíduo fica pálido, com a boca seca, a garganta constricta. A baixa oxigenação (hipóxia) leva o coração a bater mais depressa (taquicardia) a fim de compensar a falta de oxigênio e prover o organismo do calor necessário à musculatura. Tanto a hiperventilação quanto a hiperventilação e a taquicardia, a temperatura corporal se altera, ocasionando suor frio e abundante (sudorese). Cria-se um círculo vicioso em que, cada vez mais, os sintomas se agravam, a sensação de falta de ar aumenta, o coração bate muito depressa, a sudorese aumenta e a pessoa tem a sensação de que vai morrer. Muitas pessoas buscam ajuda em pronto-socorro, pensando que estão tendo um enfarto. Um cliente meu relatou que foi parar 6 vezes no Sócor, nas últimas semanas. Chegou a ir para o CTI, onde os cardiologistas nada constataram de anormal. São apenas reações fisiológicas que, NÃO MATAM e constumam cessar rapidamente (entre 01 e 03 minutos)!
6 - Exercícios para controle da ansiedade aguda::
Bernard Rangé,terapeuta comportamental, propõe uma palavra chave: ACALME-SE. Ele fez um acróstico: A.C.A.L.M.E.S.E, que designa os 8 passos para controlar a crise:
1. Aceite sua ansiedade: trata-se de uma reação ao estresse, que não mata!
2. Contemple o mundo exterior: distraia-se, preste atenção a outra coisa fora de você, leia, cuide de uma planta, conte "ladrilhos", etc...
3. Aja com a ansiedade, não deixe de fazer o que tem a fazer.
4. Libere o ar de seus pulmões: respire calma e profundamente, para que você tenha bastante oxigênio, seu coração bata mais lentamente, as sensações fisiológicas de calor, sudorese, falta-de-ar, formigamento, tonteira, etc., passem aos poucos. Em geral, uma série de 16 (dezesseis) sequências de inspiração-expiração bem profundas e lentas são suficientes para, em 01 minuto, debelar a sensação de desconforto e o medo de morrer.
5. Mantenha os passos anteriores: consciência de si, controle da respiração...
6. Examine bem o conteúdo de seus pensamentos catastróficos: que prova você tem de que tudo de ruim e trágico vai mesmo acontecer? Você não está exagerando o mal-estar? Você tem consciência de como está, neste momento, sua respiração? (Quanto mais angustiada uma pessoa, mais insuficiente a respiração. Aqui, vale o inverso: Quanto pior a sua respiração, pior a sensação física de desconforto, medo, etc...). Reconheça sua capacidade de se auto-controlar.
7. Sorria, você está conseguindo!!! Até já conseguiu!
8. Espere o melhor: na medida em que você se exercitar dessa forma, as crises serão menos ameaçadoras. Com a ajuda do seu médico/terapeuta, as crises vão sendo controladas. Se for necessário, o médico lhe receitará algum medicamento.
Portanto: A C A L M E - S E !
[Apesar de parecer orientações simplórias e puramente sugestivas, há fundamentos fisiológicos para o papel da respiração no equilíbrio do organismo. Na angústia, está comprovado que a respiração se torna superficial. Aliás, a palavra angústia vem do latim ( ángor = aperto, constrição )]
Se você conhece alguém com os sintomas descritos acima, passe-lhe o texto. Ah! não custa dizer - e não é brincadeira: ao persistirem os sintomas, corra para o médico!!!

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