A cena política está emporcalhada. Sinto náusea, tédio, descrença e, até, desesperança. Talvez seja este o maior mal que a onda de denúncias de corrupção - quase sempre comprovadas - que assola o atual governo - para mim TODOS os governos: fazer-nos descrer da política. Se desanimarmos, se desistirmos, o que virá, depois?
Nessa tarde de domingo, uma leitura, entretando, me faz repensar e, até, renova-me algumas esperanças, dá-me um pouco de alento. Compartilho com vocês.
Conheço pessoalmente, o Dr. Célio de Castro, ex-prefeito de Belo Horizonte, atualmente afastado de suas atividades para se recuperar de um Acidente Vascular Cerebral.
Célio sempre se mostrou pessoa estudiosa, afável, que sabe escutar, atenciosa. Essas qualidades lhe granjearem demanda incessante por seus serviços de clínico geral. Tanto assim que seu slogan de candidato á prefeitura da capital mineira foi "Doutor BH". Elegeu-se com mais de 76% dos votos.
Iniciou o discurso de posse, em janeiro de 1997, com uma passagem do escritor mineiro Guimarães Rosa, segundo quem "uma coisa é pôr idéias arranjadas; outra é lidar com país de pessoas de carne e de sangue, de mil e tantas misérias". Foi reeleito em outubro de 2000. A doença o afastou em novembro de 2002.. Sucedeu-lhe Fernando Pimentel.
Em artigo para a revista Transfinitos, da Escola de Psicanálise-ALEPH (Editora Autêntica, BH, 2003), Célio de Castro tece alguns comentários sobre Política e Psicanálise - parece-me que o texto é de 2001 - no qual demonstra um espírito conectado com vários campos do saber, da filosofia à psicanálise, da história às ciências políticas.
Em Política e Psicanálise, o então prefeito de BH, assinala que tanto o criador da Psicanálise (Freud) quanto seu reinventor mais famoso e polêmico (Jaques Lacan) eram muito céticos em relação à política. Leia-se a carta de Freud a Einstein ("Por que a guerra?") . Cita a descrença de Lacan quanto aos grupos: "Juntem-se o tempo necessário para fazer algo e, logo, se separem para fazer outra coisa".
Para Célio de Castro, o que não é Política:
a) "Política não é economia. Não pode, definitivamente, ser submetida ao predomínio da lógica do mercado. Desagradam-me, profundamente, certas figuras do sucesso midiático, que expressam a lógica do mercado: como a marqueteira esperta e o jovem impúbere ao qual chamo neo-yuppie, com um celular na mão e a cotação da bolsa na outra. Tanto uma como o outro não conseguem juntar a lógica (ou a sede) do lucro com a banalidade do pensamento."
b) "Política não é a gestão administrativa dos negócios, pois as propostas administrativas primam pela arrogância e pelo culto à burocracia mais paralisante."
c) "Política não é opinião pública. Muitas vezes, fazer política é opor-se rigorosamente à opinião pública. Sustento que a opinião pública, no pós-moderno, é uma caricatura manipulada pelos âncoras de TV, pelos marqueteiros presunçosos e pelos editorialistas donos da verdade."
d) "Política também não é ciência, cuja proximidade dogmática com a política produziu catástrofes históricas, como o stanilismo, e aporias dramáticas, como expresso em toda a obra de Althusser."
e) "Política sequer deve ser entendida como atrelada à história ou, mais precisamente, a um historicismo sociológico vulgar, fatalista e ingênuo, cuja consequência mais irônica é a disposição, muitas vezes manifestada pelas esquerdas, de marcar dia e hora da revolução."
f) "A política não é o social. Mais que ninguém, reconheço o valor e a necessidade dos programas sociais, principalmente num país devastado pela desigualdade e pela miséria. Porém, é preciso atentar para o seguinte ponto: as demandas sociais são manifestações - legítimas ou não - de grupos, corporações, segmentos ou classes sociais. E uma característica imprescindível da política é o seu caráter universalizante, isto é, dirigir-se a toda humanidade."
Continua o Dr. Célio: O que é a política:
"Política é um pensamento coletivo que produz ações para mudar a realidade. Um pensamento sem ação esgota-se numa retórica vazia. A ação, sem pensamento, perde-se num ativismo estéril, quem sabe histérico. Há uma subjetividade na política, ouso dizer. Sem subjetividade, essa política não existe. Porém, atenção: esse sujeito é um sujeito do pensamento coletivo. A subjetividade desse pensamento coletivo sustenta-se num conceito de igualdade que pronunci que todo Homem pensa, portanto, pode fazer política."
O que significa "Pensar política":
"Pensar política significa, em rápidas palavras, sustentar contra todos os obstáculos e circunstâncias, as idéias de justiça, igualdade e liberdade. Estas são palavras que legitimam o pensamento político (...)
Diria que as palavras que explicitam a ação coletiva podem ser enumeradas: ousar, resistir, inventar e manter a fidelidade."
Política não é politicagem:
"Politicagem é praticada sob o predomínio do interesse. Ao contrário, a política é essencialmente desinteressada. Para usar um termo de Alain Badiou, é um interesse desinteressado."
Nessa tarde de domingo, uma leitura, entretando, me faz repensar e, até, renova-me algumas esperanças, dá-me um pouco de alento. Compartilho com vocês.
Conheço pessoalmente, o Dr. Célio de Castro, ex-prefeito de Belo Horizonte, atualmente afastado de suas atividades para se recuperar de um Acidente Vascular Cerebral.
Célio sempre se mostrou pessoa estudiosa, afável, que sabe escutar, atenciosa. Essas qualidades lhe granjearem demanda incessante por seus serviços de clínico geral. Tanto assim que seu slogan de candidato á prefeitura da capital mineira foi "Doutor BH". Elegeu-se com mais de 76% dos votos.
Iniciou o discurso de posse, em janeiro de 1997, com uma passagem do escritor mineiro Guimarães Rosa, segundo quem "uma coisa é pôr idéias arranjadas; outra é lidar com país de pessoas de carne e de sangue, de mil e tantas misérias". Foi reeleito em outubro de 2000. A doença o afastou em novembro de 2002.. Sucedeu-lhe Fernando Pimentel.
Em artigo para a revista Transfinitos, da Escola de Psicanálise-ALEPH (Editora Autêntica, BH, 2003), Célio de Castro tece alguns comentários sobre Política e Psicanálise - parece-me que o texto é de 2001 - no qual demonstra um espírito conectado com vários campos do saber, da filosofia à psicanálise, da história às ciências políticas.
Em Política e Psicanálise, o então prefeito de BH, assinala que tanto o criador da Psicanálise (Freud) quanto seu reinventor mais famoso e polêmico (Jaques Lacan) eram muito céticos em relação à política. Leia-se a carta de Freud a Einstein ("Por que a guerra?") . Cita a descrença de Lacan quanto aos grupos: "Juntem-se o tempo necessário para fazer algo e, logo, se separem para fazer outra coisa".
Para Célio de Castro, o que não é Política:
a) "Política não é economia. Não pode, definitivamente, ser submetida ao predomínio da lógica do mercado. Desagradam-me, profundamente, certas figuras do sucesso midiático, que expressam a lógica do mercado: como a marqueteira esperta e o jovem impúbere ao qual chamo neo-yuppie, com um celular na mão e a cotação da bolsa na outra. Tanto uma como o outro não conseguem juntar a lógica (ou a sede) do lucro com a banalidade do pensamento."
b) "Política não é a gestão administrativa dos negócios, pois as propostas administrativas primam pela arrogância e pelo culto à burocracia mais paralisante."
c) "Política não é opinião pública. Muitas vezes, fazer política é opor-se rigorosamente à opinião pública. Sustento que a opinião pública, no pós-moderno, é uma caricatura manipulada pelos âncoras de TV, pelos marqueteiros presunçosos e pelos editorialistas donos da verdade."
d) "Política também não é ciência, cuja proximidade dogmática com a política produziu catástrofes históricas, como o stanilismo, e aporias dramáticas, como expresso em toda a obra de Althusser."
e) "Política sequer deve ser entendida como atrelada à história ou, mais precisamente, a um historicismo sociológico vulgar, fatalista e ingênuo, cuja consequência mais irônica é a disposição, muitas vezes manifestada pelas esquerdas, de marcar dia e hora da revolução."
f) "A política não é o social. Mais que ninguém, reconheço o valor e a necessidade dos programas sociais, principalmente num país devastado pela desigualdade e pela miséria. Porém, é preciso atentar para o seguinte ponto: as demandas sociais são manifestações - legítimas ou não - de grupos, corporações, segmentos ou classes sociais. E uma característica imprescindível da política é o seu caráter universalizante, isto é, dirigir-se a toda humanidade."
Continua o Dr. Célio: O que é a política:
"Política é um pensamento coletivo que produz ações para mudar a realidade. Um pensamento sem ação esgota-se numa retórica vazia. A ação, sem pensamento, perde-se num ativismo estéril, quem sabe histérico. Há uma subjetividade na política, ouso dizer. Sem subjetividade, essa política não existe. Porém, atenção: esse sujeito é um sujeito do pensamento coletivo. A subjetividade desse pensamento coletivo sustenta-se num conceito de igualdade que pronunci que todo Homem pensa, portanto, pode fazer política."
O que significa "Pensar política":
"Pensar política significa, em rápidas palavras, sustentar contra todos os obstáculos e circunstâncias, as idéias de justiça, igualdade e liberdade. Estas são palavras que legitimam o pensamento político (...)
Diria que as palavras que explicitam a ação coletiva podem ser enumeradas: ousar, resistir, inventar e manter a fidelidade."
Política não é politicagem:
"Politicagem é praticada sob o predomínio do interesse. Ao contrário, a política é essencialmente desinteressada. Para usar um termo de Alain Badiou, é um interesse desinteressado."
"Ou reinventamos a política ou será a barbárie" (Célio de Castro)
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