26 fevereiro, 2006

Carnaval em família

Viemos para Nova Era-MG, Amélia, eu e nosso filho Leo para comemoramos, juntos aos familiares, o meu aniversário.

Como sempre, meu pai Soié operou como fotógrafo oficial e folião número 01 de Nova Era (afinal, é homenageado especial da Banda dos Farrapos
).

O almoço foi preparado pela mãezona, Aparecida. Festa & carnaval... com direito a churrasco caprichado pelos manos Bonifácio & Clóvis.


Na cidade, o Carnaval já não é mais como nos velhos tempos - as coisas, afinal, devem permanecer imutáveis?


As lembranças da infância me transportam a tempos idos, quando a serpentina, os confetes e as marchinhas davam o tom de alegria inocente. Pelo menos para aquele garoto de 7-8 anos, a pular pelo salão do pequeno clube, na matinée das crianças. Os frascos de lança-perfume eram vendidos livremente e espalhavam um odor típico, que eu achava delicioso. Ao receber uma borrifada, sentia na pele a mistura de éter geladinho que rápidamente se evaporava. Nunca me passou pela cabeça a possibilidade do uso abusivo que, mais tarde, acarretou a proibição do "perfume de Carnaval".


Nas ruas, foliões quase avulsos se fantasiavam de piratas, palhaços, monstros. Alguns homens se vestiam de mulheres. Um batuque improvisado ou uma bandinha formada de trompete, saxofone, trombone, tarol e tambor completava o "bloco sujo" - como era chamado aquele agrupamento exótico.


Nos anos 70, talvez por influência das transmissões televisionadas dos desfiles do Rio de Janeiro, organizaram-se as "escolas de samba", que chegavam a disputar prêmios e classificações, desfilando nas ruas estreitas provocando aplausos do povão. Formou-se tradição que já está em declínio: ontem à noite passaram algumas alas, sem empolgar. No máximo, acorremos às portas ou janelas dos sobrados.


Mas a "Banda dos Farrapos" e o bloco "Boca de Gole" tentam, ainda, manter a tradição, embora sem o vigor de outrora.

A Banda dos Farrapos se compõe de pseudo-músicos em pseudo-uniformes compostos por velhos e puídos paletós. Desfilam numa bagunça extremamente organizada (!) e com irreverência inocente provocam comerciantes a fornecerem cerveja de graça. O Soié Bar, do meu pai, era parada obrigatória durante anos. Hoje, meu pai Soié é homenageado pelos componentes e recebe, a cada ano, a "camisa" oficial da "corporação".

À noite, domina o "carnaval moderno": Agora, um palco é armado numa rua mais larga e... tome Axé! O som eletrônico derrama aquele baticum imutável sobre a platéia convocada a "assistir" um grupo de rapazes bombados e duas garotas rebolativas em coregografias ensaiadas, provavelmente copiadas de alguns sucessos "baianos" (desculpem os baianos, por quem tenho apreço). Durante a meia-hora que assisti ao "show, junto à Amélia, menininhas de 8 a 10 anos foram convocadas ao palco e disputaram os aplausos do público enquanto "dançavam" miméticamente. Tratava-se de um anacrônico Programa do Chacrinha, animado pelo condutor da "banda" Suingueiros". Os rapazes provocaram "delírios" ao tirarem as camisas...


Melhor foi voltar para a casa dos meus pais, partir a torta de nozes e cantar o "Parabéns pra você".

Enquanto isso, a cidade estatelava-se em frente à TV, "vendo o Carnaval passar".


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