Outro dia chegou-me ao consultório um rapaz com queixas de "ter perdido a alegria de viver". Salientou esses termos e evitou declarar-se propriamente deprimido:
- Continuo na escola, vou a algumas a festas, faço academia, tenho amigos; mas algo não vai bem comigo. Tenho um relacionamento afetivo há alguns anos, "mais sério que um namoro, menos sério que um noivado", mas... O pior é que os defeitos dela começaram a me incomodar, embora eu sempre compreendesse, pois houve um tempo em que estive mesmo apaixonado.
- Explique melhor o que você quer dizer com perder a alegria de viver, como é isso no dia-a-dia.
- Continuo na escola, vou a algumas a festas, faço academia, tenho amigos; mas algo não vai bem comigo. Tenho um relacionamento afetivo há alguns anos, "mais sério que um namoro, menos sério que um noivado", mas... O pior é que os defeitos dela começaram a me incomodar, embora eu sempre compreendesse, pois houve um tempo em que estive mesmo apaixonado.
- Explique melhor o que você quer dizer com perder a alegria de viver, como é isso no dia-a-dia.
- No início, eram só cansaço, impaciência, algum distúrbio tipo dor-de-cabeça, desânimo, por aí. Algumas pessoas me perguntavam sobre o que estava acontecendo. Inventava desculpas, tipo "foi algo que comi" ou "esta noite não dormi bem". Mas o certo, doutor, é que me tornei mais introspectivo, conversando menos, achando menos graça nas coisas, entende? Ah, tem também minha obsessão pela internet: comecei a ficar horas no MSN, Orkut, esses sites, o senhor conhece?
- E aí?
- Bem, aí comecei a dar corda para algumas conversas, principalmente com meninas que se propunham a conhecer alguém. Dei o telefone para uma pá de gente. Chegava da escola e corria pro computador, nem lanchava, nem conversava com meus familiares: minha mãe, coitada, ia chegando com um toddy e eu dizia: "espera aí, mãe, que 'tou ocupado'. Ela até reclamou, mas não mudei.
- E?
- Agora estou sentindo uma angústia danada, pois vou terminar com minha namorada-quase-noiva e não sei como falar. Sinto duas coisas: angústia e culpa.
- E aí?
- Bem, aí comecei a dar corda para algumas conversas, principalmente com meninas que se propunham a conhecer alguém. Dei o telefone para uma pá de gente. Chegava da escola e corria pro computador, nem lanchava, nem conversava com meus familiares: minha mãe, coitada, ia chegando com um toddy e eu dizia: "espera aí, mãe, que 'tou ocupado'. Ela até reclamou, mas não mudei.
- E?
- Agora estou sentindo uma angústia danada, pois vou terminar com minha namorada-quase-noiva e não sei como falar. Sinto duas coisas: angústia e culpa.
- Como assim?
- Estou com medo de dar um passo errado: e se eu me arrepender, depois? E se eu quiser voltar e ela não? Tenho medo de ficar sozinho, pois só tenho relacionamentos virtuais, quer dizer, só converso pela internet. Fico desanimado de sair pras baladas, puxar assunto. Acho que nem sei mais como se faz para chegar nas meninas.
- E culpa, culpa por que?
- Porque já estou fazendo minha namorada-quase-noiva sofrer: ela percebe minhas esquivas em conversar. Digo-lhe que estou fazendo pesquisa no computador, mas ela sabe que é mentira, estou sempre on line no MSN. Engraçado que é mais fácil conversar com ela pela internet do que ir à casa dela ou sair prum barzinho, fazer algum programa juntos.
- E o que você pretende?
- Queria que me receitasse um remédio, um antidepressivo, sei lá, um remédio que me fizesse esquecer essas coisas, ficar bem...
- ...
- É, eu sei que não existe pílula da felicidade.
- Não existe mesmo.
- Mas ajuda, né?
- Parece-me que talvez seja mais lógico você tentar mudar seu esquema de vida, rapaz. É preciso definir o que você quer, se gosta ou não da menina, entender por que você se enfurnou na internet.
- Eu sei disso, mas não adianta. Hoje em dia tá todo mundo assim: à noite, de madrugada, o MSN fica bombando de gente; parece que ninguém dorme, ninguém sai.
- Muito menos você, né?
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