Não tenho certeza absoluta, mas quase posso jurar que a palavra 'ecologia' ressoou em meus ouvidos quando cursava Medicina, na UFMG, há 3 décadas! Se não me engano, explicava-se o aumento urbano de algumas doenças transmissíveis (febre amarela, doença de Chagas, etc ) se devia ao desequilíbrio ecológico provocado pela destruição das matas e expansão da fronteira agrícola e uso de agrotóxicos. Desde então, aumentou infinitamente a freqüência com a qual o termo passou a aparecer na mídia.
Fecho os olhos e rememoro minha aproximação ao conceito:
A princípio, entendia 'ecologia' apenas como ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si ou com o meio orgânico ou inorgânico no qual vivem [na 1a. acepção do Houaiss]. Aprendi que a palavra se origina da justaposição de dois termos grego: óicos [casa] + lógos [estudo, palavra].
Aos poucos, o conhecimento de que a sobrevivência da humanidade está em risco no Planeta Terra (nossa casa) está cada vez mais bem determinado. Ecologia se torna uma questão de vida ou morte e estudos demonstram que o aumento desmesurado da insdustrialização, o uso de combustíveis fósseis, a superpopulação, as alterações climáticas devidas ao acúmulo de gases na atmosfera e muitas outras atividades esgotarão as reservas de oxigênio, de água e de terras aproveitáveis. Morreremos de fome, de sede, de calor, de asfixia, de inanição... O Planeta sobreviverá, claro, mas ninguém estará aqui para ver a Natureza se recuperar por si, alguns milhões de anos depois do último Homem.
A Natureza sobreviverá ao Homem e àquilo que o distingue das coisas e dos animais, ou seja, à Cultura? E o título auto-aplicado de "rei da natureza" que acreditávamos ser verdadeiro e absoluto? Um paradoxo se constitui: de um lado, a Ciência que cria modos de domínio e manipulação dos recursos e forças naturais; por outro, a constatação de que será mortífera a utilização descontrolada, desmedida e intensa daqueles mesmos recursos. Há que mudar.
Mas será que conseguiremos mudar nossa relação com o meio ambiente sem mudar a nós mesmos?
"Existe uma ecologia das idéias danosas, assim como existe uma ecologia das ervas daninhas." [BATESON, Gregory. 2000 [1972]. Steps to an Ecology of Mind. Chicago: The University of Chicago Press.]
Com esta citação, Félix Guattari inicia importantes reflexões em seu livro As Três Ecologias (Campinas-SP, Papirus Editora) - Resumo.
Apesar de estarem começando a tomar uma consciência parcial dos perigos mais evidentes que ameaçam o meio-ambiente natural de nossas sociedades, elas [as formações políticas e instâncias executivas] geralmente se contentam em abordar o campo dos danos industriais e, ainda assim, unicamente numa perspectiva tecnocrática, ao passo que só uma articulação ético-política – a que chamo ecosofia – entre os três registros ecológicos (o do meio-ambiente, o das relações sociais, e o da subjetividade humana) é que poderia esclarecer convenientemente tais questões.
O conceito de Ecologia se estende à Ecosofia, que se orienta para três registros:
a) o registro do meio ambiente: a ecologia mais conhecida e difundida pela mídia, visando a preservação do ecossistema, das fontes de energia, das reservas de água potável, sobrevivência das espécies, etc.
b) o registro das relações sociais: "não haverá resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural, reorientando os ojetivos da produção de bens materiais e imateriais." (p.09) Uma ecosofia social tratará de modificar e reinventar maneiras de ser no seio do casal, da família, do constexto urbano, do trabalho, etc. Não é fácil...
c) e a ecosofia da mente? Pois é, essa vai fundo, pois questiona a própria noção de subjetividade. É claro que as teorias psicanalíticas e estruturalistas serviram de fonte para o questionamento da subjetividade cartesiana ("penso, logo existo"). Na verdade, há outras maneiras de existir fora da consciência. Por isso Guattari prefere falar em componentes de subjetivação. Questiona, pois, o individualismo, o consumismo, a alienação e a passividade nossa de cada dia.
Salvar-nos, neste mundo, é tão ou mais difícil que salvar o Planeta!
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